quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

De Clarice

Quando Chorar

Há um tipo de choro bom e há um tipo de choro ruim. O ruim é aquele que as lágrimas correm sem parar e, no entanto, não dão alívio. Só esgotam e exaurem. Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse choro como de uma criança  com a angústia da fome. Era. Quando se está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se: não vai adiantar. É melhor tentar-se de forte, e enfrentar. É difícil, mais ainda menos do que ir-se tornando exangue a ponto de empalidecer.
Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então são lágrimas suaves, de uma tristeza legitima a qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios  sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto da nossa dor mais profunda.
Homem chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta às vezes inútil. Respeito muito o homem que chora. Eu já vi homem chorar. (Lispector, 25.11.1967)

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