Voz sensual e pés cansados

Hoje foi um dia daqueles para mim. Dormi mal para variar e acordo cedo, muito cedo como de costume.   Oro por horas. Agradeço ao Pai Todo Poderoso por mais um dia. Penso nos meus amores, sinto saudades, me espreguiço. Ouço o chato do meu cachorrinho latindo, chorando, querendo colo. Vou ao terraço, faço um afago, ele é carinhoso comigo, não tenho como negar um chamego.

Depois vou  à cozinha, fazer café da manhã para os meus filhotes. Café simples: leite, café, manteiga e pão quentinho da padaria aqui pertinho.Os meninos comeram o queijo todo. 

O ar frio entra pela porta, e eu repito meu ritual matinal. Acordar minha filhota, abençoar meu filhote menor, procurar uma roupa para ir ao trabalho, decidir o cardápio do dia, argh! Meu estomago revira, não gosto de pensar em comida logo cedo.

Bato na porta do quarto dos meus filhos e chamo meu primogênito, ele gentilmente vai me levar ao trabalho. Um trânsito não tão pesado. Música no rádio. Meu pensamento longe. Me pego orando mais uma vez. Estou tomada pelo meu Senhor. Consigo abstrair da zoada do trânsito, da música, de qualquer coisa externa à minha conversa particular com Deus.

Vez em quando, meu filho me diz alguma coisa. Respondo. Contextualizo e sinto mais amor por ele ser assim tão parecido comigo. Uma dádiva. Acorda meio calado, mas  muito bem humorado, disponível, quase uma réplica de mim mesma.

Chego ao trabalho, um dia meio morno, eu cheia de tarefas e muitas chateações. Mas, agradeço a Deus novamente: eu tenho emprego. Por volta das nove horas, minha filha liga, está indo ao hospital. Uma crise de enxaqueca. Vou ficar com ela, meu coração já aflito. Minha pequena está dodói e  isso me dói. 

Fico  horas em pé. Por isso os pés cansados. Acreditem, o hospital que é particular, não tinha uma cadeira disponível para acompanhante. Pressiono a enfermagem, minha filha está tonta, com  a cabeça estourando de dor. Tadinha, toma uma montanha de analgésicos e dorme. Eu? Continuo em pé. Me arranjo em uma escadinha de pé. Fico um trapo de tão cansada. Sete horas, ali, guardando o sono dela, levando-a ao banheiro, pressionando o hospital por um atendimento melhor. Mas, valeu a pena, ela etá bem melhor, eu nem tanto. Os pés em frangalhos. A voz rouca.

Ah, a voz rouca e sensual, ia esquecendo. Resultante de uma gripe herdada. Não me arrependo nem um pouco. E a  coisa mais importante  nisso tudo: meu Deus me permitiu falar Dele para minha filha e ela me ouviu. Tenho sido abençoada com revelações e graças como essa!

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